A paixão nasceu de um hobby com dez anos de existência. A partir daí, foi um voo rápido o de Ricardo Guerreiro até à colaboração com a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves. A sua missão no navio que rumou às Selvagens é a de fazer os censos das aves marinhas, quando o Creoula se encontra em trânsito.
O investigador faz o levantamento do número de aves, associando-o a um código de comportamento e de distâncias, que por sua vez é inserido numa base de dados que tem uma frequência temporal de cinco minutos. Essa frequência é depois convertida numa frequência espacial de milhas quadradas, numa banda de 300 por 300 metros. «Tiro uma posição inicial associada a uma hora e uma posição final associada a outra hora, sendo fácil, depois, calcular as posições intermédias através de uma interpolação por computador», explica.
A zona das Selvagens é muito rica em termos de aves marinhas, sendo que é possível encontrar quase todas as espécies que nidificam em território nacional. Almas Negras, Cagarros, Paínhos e Calcamares são algumas das espécies que nidificam em grande número nas ilhas, sendo que os últimos são talvez os mais emblemáticos. Já os Garajaus são mais comuns em zonas como os arquipélagos dos Açores ou Madeira.
«No trânsito de Lisboa para o Funchal, vi algumas espécies, principalmente as que nidificam na Madeira e nos Açores. O Calcamar só vi no trânsito do Funchal para as Selvagens», afirma, acrescentando que os Cagarros são uma espécie protegida, já que, apesar de existirem bastantes casais, as perdas de habitat têm sido severas, devido a predadores terrestres como gatos e ratos, situação que nas Selvagens não se verifica.
O trabalho que Ricardo Guerreiro faz a bordo é a base de um projecto bem maior. Tudo começou em 2004, com o projecto LIFE IBAS Marinhas (Important Bird Áreas, da sigla em inglês), financiado pela Comissão Europeia e levado a cabo pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, através de parcerias com organismos governamentais e universidades. «Os meus dados são fundamentais como base para perceber qual a densidade de aves em certas áreas marinhas, não só costeiras, mas também no oceano aberto. Fizemos trabalho de recolha de dados a mais de 500 milhas de certas zonas», sublinha o responsável.
Procura-se agora o estatuto legal que vise algum género de protecção, no sentido de proibir determinados tipos de pesca, ou actividades costeiras de lazer que possam prejudicar as aves. Neste momento, os dados que estão a ser recolhidos inserem-se no âmbito do programa marinho da sociedade e visam alguma continuidade do projecto LIFE. «É necessário fundamentar o pedido de protecção legal para diversas áreas, que são prioritárias para a conservação das diversas aves marinhas», remata.