Sexta-feira, 25.06.10

Reportagem da SIC sobre o ROV Luso "afundado"

publicado por Pedro Quartin Graça às 22:55 | link do post | comentar
Sábado, 19.06.10

A SIC nas Ilhas Selvagens

parque
SIC

19-06-2010 

Sozinhos na ilha

Catarina NevesJornalista

MISSÃO NAS ILHAS SELVAGENS

SIC acompanha grupo de cientistas durante 20 dias

Estão sempre dois. Dois vigilantes numa ilha do tamanho de 20 campos de futebol. A Selvagem Pequena só é habitada no Verão. No Inverno não se consegue desembarcar numa das duas ilhas oceânicas mais a Sul de Portugal.

Sandro Correia e Ricardo Cabral são vigilantes do Parque Natural da Madeira. Fizeram o curso juntos. Nove anos depois voltam a encontrar-se no trabalho e isso deixa-os muito satisfeitos.

Sandro Correia tem 32 anos. Há quem lhe chame o Chuck Norris das Selvagens. Os olhos azuis escondem um homem reservado, de poucas falas, mas pronto a disparar sorrisos com a suavidade que o isolamento desejado adocica. Sandro gosta de estar três semanas sem telemóvel, sem internet, sem jornais, fechado na ilha. A televisão liga-os ao mundo. O botão "on/off" do aparelho tem aqui uma importância diferente. Tudo é diferente aqui.

As comunicações fazem-se via rádio com a Selvagem Grande. Caso falhe e os vigilantes estejam com problemas, o farol do Pico do Veado é tapado (trata-se do ponto mais alto da ilha, com 49 metros de altitude). Será a última tentativa de enviar um SOS.

Água canalizada potável não há. Casa de banho também não. A electricidade é produzida por painéis solares. O lixo é levado pelo barco patrulha. E até a barba é feita num espelho redondo e partido colocado numa das paredes de madeira da única infra-estrutura que existe na Selvagem Pequena: a casa dos vigilantes. 

É impossível não querer espreitar. Duas camas individuais encostadas à parede. Uma cozinha pequena. Um balcão. Algumas prateleiras. Loiças e tachos à vista. Um frigorífico (sempre abastecido de minis). Um leitor de CD. Uma televisão. E está feita a descrição. O resto são sensações. Acolhedor de dia. Lúgubre à noite. Um magnífico pôr-do-Sol. Uma escuridão temerosa. E aquela constante brisa do mar.

Para completar o cenário faltam as piadas de Ricardo Cabral. Ora são anedotas, ora trocadilhos inventados no momento. Uns atrás dos outros. Ricardo acorda e, enquanto arruma o sono e prepara o pequeno almoço já está disperto para fazer rir. Sandro acompanha soltando sorrisos.

Quando têm visitas (o que só pode acontecer com autorização do Parque Natural da Madeira) trajam como manda a entidade patronal. Sempre que a única presença humana são eles vestem-se como a natureza determina. Quentes no frio. Frescos quando os abrasadores ventos de África trazem as areias do Deserto do Sahara.

As duas ilhas pertencem à “Rede Natura 2000”, ou seja, são zonas onde se está obrigado a conservar os habitat e as espécies selvagens. As Selvagens são um paraíso de nidificação para as aves marinhas. A Pequena está, por agora, cheia de ninhos dos Calcamares.

É uma ave que voa calcando o mar. Endémica da Macaronésia, o Calcamar nidifica em solos arenosos onde escava profundos ninhos. O chão da Pequena foi tomado pelos Calcamares. Sair dos poucos trilhos que existem é, muito provavelmente, esmagar alguns ovos com os pés. Tal como as outras aves marinhas, o Calcamar coloca um único ovo e o juvenil só se reproduz pela primeira vez vários anos depois.

As aves não estão sozinhas. O homem está. Na Selvagem Pequena ainda mais que na Grande. Mas da Grande prometo contar-vos tudo em breve.

publicado por Pedro Quartin Graça às 20:07 | link do post | comentar
Quinta-feira, 17.06.10

A SIC nas Ilhas Selvagens

gago coutinho
SIC

Publicação: 17-06-2010 

Admirável mundo novo

Catarina Neves Jornalista

SIC acompanha grupo de cientistas durante 20 dias

Será possível aos 10 anos de idade estar completamente apaixonado pelo mar? Aos 12 decidir que quando for grande quer ser biólogo marinho? E aos 19 achar que mergulhar é muito mais interessante que continuar a descobrir o que existe à superfície, em terra? 

Para Francisco Fernandes a resposta a estas três perguntas é só uma: sim, com um enorme ponto de exclamação no fim. 

É certo que o rio Tejo o viu nascer, mas nada nem ninguém na família podia prever esta prematura e tão determinada entrega ao mar. Já menos surpreendente foi a decisão de estudar Biologia Marinha, na Universidade do Algarve. 

Francisco Fernandes entrou no curso com média de 18 valores. Um bom aluno que vê em perigo a conclusão do primeiro ano, pelo menos por agora. 
É que não se pode estar em dois locais ao mesmo tempo e Francisco passou a última semana ao largo das ilhas Selvagens, a acompanhar os trabalho de alguns dos cientistas envolvidos na missão organizada pela Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma continental. 

Foi um dos três alunos de licenciatura a bordo da caravela Vera Cruz, uma das três embarcações que participam naquela que é a maior expedição científica portuguesa de sempre. 

Para estar nas Selvagens, Francisco teve de faltar a alguns exames da faculdade, mas garante que não podia estar mais satisfeito. 

Impressionou-se com a forma como tantos cientistas se organizam, por exemplo, para fazer dois mergulhos diários, ao longo de quase um mês. Adorou mergulhar e contribuir para o retrato da biodiversidade daquela zona. “É uma experiência que talvez não volte a repetir”, diz. 

Francisco faz parte daquele grupo de jovens que respira vontade de crescer, mas lida mal com o ritmo da aprendizagem académica. Fala das algas e dos peixes como se tivesse nascido no meio deles. 

“Eu fui feito para estar no mar”, confessa e lá lhe foge mais um sorriso transparente como a água salgada que tanto lhe alimenta os dias. 

Está de regresso a Lisboa e a nossa breve conversa termina com uma frase pouco original, mas muito importante para todos os que, como Francisco, admiram o novo mundo: “sabemos mais da superfície da lua do que do fundo do mar”.

publicado por Pedro Quartin Graça às 23:58 | link do post | comentar
Quarta-feira, 16.06.10

A SIC nas Ilhas Selvagens




“Quero encontrar um cavaco grande”

Catarina Neves
Jornalista

MISSÃO NAS ILHAS SELVAGENS

SIC acompanha grupo de cientistas durante 20 dias

O que é que mais desejam os 80 cientistas, envolvidos na expedição organizada pela Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC), que se destribuem pelos navios “Almirante Gago Coutinho” e “Creoula” e pela Selvagem Pequena? A resposta é: descobrir.

Uns dedicam-se a observar as aves, outros a pesquisar a flora, outros analisam os sedimentos do fundo do mar, outros ainda estudam o genoma dos organismos que vão sendo encontrados.

A causa é comum: retratar a biodiversidade das Selvagens. No entanto, o que cada um deseja descobrir é tão diferente quão diversos são os investigadores e as áreas de investigação aqui reunidas. E é preciso ter cuidado quando se pergunta o que mais gostavam de encontrar, uma vez que a resposta, para quem não é especialista, pode dar azo a mal entendidos.

“Desculpe?” 
Esti Berecibar, 35 anos, é bióloga e está ligada à EMEPC. Assentou arraiais no “Creoula”. É desse navio que, todos os dias, mergulha, ao largo das Selvagens.

Quando a encontrámos estava de pinça na mão a separar um ouriço do mar de uma alga vermelha. Um vai para um frasco. A outra para um saco de plástico.

Esti prontificou-se logo a explicar que o ouriço come o que encontra pela frente. E que a alga vermelha, dura e formada por pequenas bolinhas todas juntas, tem um crescimento lento. Aquela alga cabia na palma da mão, mas deveria ter mais de 50 anos. E agora ia viajar das profundezas do Atlântico para um laboratório em Lisboa. 

Não falta entusiasmo, a Esti e a tantos outros quando falam sobre o que vão reunindo nesta expedição, mesmo quando os dias terminam sem que tenham conseguido encontrar o que mais anseiam. No caso desta investigadora basca a viver em Portugal há alguns anos, os olhos procuram um cavaco grande.

“- Desculpe, um quê?

- Um cavaco grande, também chamado lagosta da pedra”. 

O cavaco grande é um crustáceo que habita os fundos rochosos e arenosos e que durante o dia refugia-se em concavidades ou grutas na rocha, só se deslocando à noite para procurar alimento enterrado na areia. Pode ultrapassar os 45 centímetros de comprimento. Tem uma carapaça robusta, castanha-avermelhada e mais ou menos quadrangular. Os conhecedores de marisco devem saber bem que animal é este, uma vez que é uma espécie muito apreciada na culinária madeirense. Mais difícil é encontrá-la no prato. Capturar um cavaco não é tarefa fácil, garantem os entendidos.

Esti adorava ter um na mesa improvisada do laboratório a bordo do “Creoula”, mas essa sorte acabaria por ficar para os investigadores na Selvagem Pequena, alguns dias depois. Um crustáceo que regressou ao mar assim que lhe foi retirada uma parte para análise.

“- A Esti quer encontrar um cavaco grande?! Para quem não sabe a que se refere pode até ser mal interpretado.

- Desculpe, mal interpretado? Porquê?” 

E assim se encontram dois mundos: o dos cientistas e o dos jornalistas em pleno Oceano Atlântico.

publicado por Pedro Quartin Graça às 06:55 | link do post | comentar
Sábado, 12.06.10

Cientistas conseguiram ver o fundo do oceano Atlântico ao largo das Selvagens

publicado por Pedro Quartin Graça às 23:03 | link do post | comentar

A SIC nas Ilhas Selvagens

ilhas
SIC

12-06-2010 

"É preciso ter paciência"


Catarina Neves Jornalista

MISSÃO NAS ILHAS SELVAGENS

SIC acompanha grupo de cientistas durante 20 dias

"- O ROV vai mergulhar agora? 
- Não, ainda não. Talvez daqui a uma hora". 
Uma hora depois. 
"- É agora? 
- Não, ainda não". 

E passam várias horas sem que o robot submarino faça o tão desejado mergulho no Atlântico, ao largo das Selvagens. Para que a operação corra bem é preciso ter paciência e garantir que todas as peças estão a funcionar. E isso é uma tarefa que envolve todos e que tende a arrastar-se no tempo. 

"Mais meia hora e está pronto", diz um dos pilotos do ROV, enquanto suja as mãos com óleo nos derradeiros preparativos. E lá passa mais, não meia mas, uma hora... 

À segunda foi de vez 

Já no dia anterior a equipa técnica tinha tentado mergulhar o ROV, mas uma inesperada perda de óleo tornou impossível a missão. O submarino de grande profundidade mal tocou a água. 


O dia seguinte acabaria por trazer novo fôlego aos cientistas. Nem todos os que seguem a bordo do navio N.R.P. Almirante Gago Coutinho estão ligados à Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental, o grupo técnico-científico do Ministério da Defesa Nacional que lidera esta que é a maior expedição científica portuguesa de sempre. Alguns pertencem a instituições universitárias e de investigação portuguesas e estrangeiras. Pouco sabem sobre o ROV, mas não têm dúvidas que sem o aparelho não podem trabalhar. Precisam do material para começar a identificar, analisar e, finalmente, desenhar o mapa da biodiversidade nesta zona do oceano. 

Às 17h28, de sexta-feira, o ROV "Luso" está na água. Vai descer cerca de 800 metros até ao fundo do mar. E vai colocar na cara dos cientistas um delicioso sorriso que só a paciência tornou possível. 

Quase 6 horas depois conseguirá trazer uma esponja (que muito entusiasmou os cientistas) e algumas rochas. Menos do que seria desejado, mas dentro do esperado. A noite terminará por volta das duas da manhã. Depois de tudo o que foi recolhido ter sido tratado no laboratório improvisado num contentor. 

Para os marinheiros termina assim uma noite de cinema em alta definição com imagens reais do fundo do mar e comentários entusiasmados de quem consegue identificar um animal onde a maioria de nós mais não vê que uma rocha. 

publicado por Pedro Quartin Graça às 22:54 | link do post | comentar
Sexta-feira, 11.06.10

A SIC nas Ilhas Selvagens

publicado por Pedro Quartin Graça às 17:51 | link do post | comentar

A SIC nas Selvagens

ilha
SIC

11-06-2010

“Que dia é hoje?”

No mar, a palavra rotina ganha outra força. Os dias entram uns nos outros sem pedir licença, embora, numa embarcação militar, a obediência às regras seja obrigatória e necessária. 

Catarina NevesJornalista


 A estrutura militar pode ser vista pelos civis como pesada, mas fora de terra, num navio grande e ao mesmo tempo pequeno, saber quem manda e agir de acordo com o esperado é essencial para cumprir a faina com sucesso. Cria uma sensação de segurança, ainda mais importante quando quase só se pode contar com as pessoas que estão a bordo e o chão teima em fugir dos pés. Não será por acaso que uma tenente que segue na expedição às Selvagens confessa, sem qualquer embaraço: “hoje não seria capaz de viver sem regras. Ajudam a organizar-me”. 
As horas da refeição são para cumprir (e o mar, quando se tem a sorte de não enjoar, abre o apetite). As normas de segurança são para seguir à risca (como por exemplo não fumar em determinadas zonas e/ou momentos). O comandante é para respeitar sempre (não nos devemos, por exemplo, sentar ou levantar da mesa sem primeiro perguntar: “o senhor comandante dá licença?”). 
A viagem do porto do Funchal, na Madeira, às Selvagens ultrapassou as 24 horas. O navio “Almirante Gago Coutinho” demorou mais tempo que o Creoula porque foi parando para fazer medições de condutividade, temperatura e densidade da água do mar. Esses dados são recolhidos por uma sonda colocada na água e depois transferidos para um dos vários computadores a bordo. Serve, por exemplo, para perceber se a água do Mediterrâneo chega às Selvagens. E foi por causa de operações como esta que alguns cientistas não dormiram toda a noite e a expedição ainda mal começou.

Quando se avistaram as Selvagens passava pouco das seis da manhã, mas só às nove e vinte é que soou a informação nos altifalantes que tínhamos chegado ao primeiro destino da missão:“vamos dar início à manobra de embarcação”. 
Os 14 elementos da equipa técnica (os investigadores) e os 34 marinheiros uniram-se então para começar uma tarefa que acabou por ocupar todo o dia: colocar comida, tendas, caixas com tubos de plástico e até uma casa de banho com papel higiénico num semi rígido e em dois botes para transportar até à Selvagem Pequena.

De forma irregular e com apenas 20 hectares de área, a Selvagem Pequena encanta logo à chegada. Não é qualquer embarcação que consegue aproximar-se da terra, uma vez que o fundo do mar está cheio de rochas vulcânicas que podem danificar os cascos mais baixos das que têm maior calado. Assim como se a ilha estivesse a dizer-nos: “venham, mas portem-se bem se não são castigados”. 
Nunca foram introduzidos na ilha animais ou plantas. Existe apenas uma construção feita pelos homens. Uma cabana de madeira onde ficam os dois guias apenas durante o Verão. São substituídos de três em três semanas. Três semanas sem falar ao telefone, ler jornais ou estar com outras pessoas. Há electricidade através de painéis solares. É suficiente para alimentar uma televisão e um frigorífico, onde as minis, que ajudam a passar o tempo, se vão mantendo frescas.

Por estes dias, a quietude da Selvagem Pequena acordará para a ansiedade de 15 cientistas desejosos de descobrir e aprender. As aves marinhas, as osgas, as lagartixas, os escaravelhos e as borboletas vão talvez reparar noutros sons para além da voz do mar e talvez notem diferença na paisagem.

Na terra a que deram o nome de Selvagem Pequena, a rotina será quebrada e os dias ameaçam ser poucos para tudo o que se quer fazer, mesmo que às tantas todos perguntem: “que dia é hoje?”

publicado por Pedro Quartin Graça às 17:47 | link do post | comentar

A SIC nas Selvagens

A SIC nas Selvagens
publicado por Pedro Quartin Graça às 17:43 | link do post | comentar
Bem-vindo ao Blog “Ilhas Selvagens”! Este é um espaço dedicado à divulgação das Ilhas Selvagens, subarquipélago da Madeira, o extremo mais a sul do território nacional. Uma janela aberta ao mundo e um retrato da zona mais desconhecida de Portugal. Entre e explore as ilhas!

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